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Onde tudo começou — ou, o nascimento do projeto Luz, Câmera e Resistência: a história do Cine Belas Artes

Era dia 12 de julho de 2018. Por morar em Cotia, município de São Paulo mais afastado das regiões centrais da cidade, precisei acordar bem cedo para pegar o ônibus — o único perto de minha casa que dá acesso ao metrô — e chegar à região da Avenida Paulista. Na ocasião, estava indo à uma cabine de imprensa para assistir Ilha dos Cachorros (2018), de Wes Anderson. Este dia foi o primeiro do qual tenho memória de pisar no Cine Belas Artes.

 

Quando cheguei ao meu destino, na Rua da Consolação, 2423, as portas estavam fechadas pois ainda era muito cedo. Decidi esperar no metrô Paulista, ao lado do local, até dar o horário certo. Quando entrei no Belas Artes, logo percebi ser um ambiente diferente dos outros cinemas que já havia frequentado. Ele tinha um charme. Uma personalidade própria. O filme foi exibido em uma das salas que ficava no subsolo. Então, junto de outros jornalistas, desci as escadas e fui desbravando, com olhar curioso, cada parte do prédio. De cara, o contato com este espaço foi mágico — e mais de quatro anos depois, ressoaria na minha formação como cinéfilo.

 

Meu nome é Marcelo Augusto de Freitas Canquerino. Tenho 25 anos e no momento que escrevo estas palavras estou prestes a me formar jornalista pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP. Meu interesse pelo Belas Artes surgiu logo na época em que o conheci, e essa relação só se intensificou ao longo dos anos, resultando no Luz, Câmera e Resistência: a história do Cine Belas Artes, meu Trabalho de Conclusão de Curso — que se propõe a revisitar a trajetória do clássico cinema de rua de uma forma diferente.

 

Quando estava prestando vestibular, tive muitas dúvidas em relação ao curso que deveria escolher. Os dois principais que estavam no páreo eram Jornalismo e Audiovisual. Tudo só ficou claro no momento em que entendi que gostaria de escrever sobre cinema e não propriamente fazê-lo. Em 2018 fui aprovado no vestibular da USP para Jornalismo e então minha jornada começou.

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No primeiro ano, entrei como repórter na Jornalismo Júnior, empresa júnior de comunicação da ECA, e fui selecionado, durante o primeiro semestre, para trabalhar no Cinéfilos, o núcleo de redação que cobria cinema. Foi graças a essa oportunidade que tive a chance de explorar mais a cidade de São Paulo — e para minha felicidade, seus cinemas. Tudo isso nos leva novamente ao dia 12 de julho, quando fiz a cabine de imprensa de Ilha dos Cachorros pela Jota (apelido carinhoso dado pelos estudantes à Jornalismo Júnior) e conheci o Cine Belas Artes.

 

A partir de então, minha relação com os cinemas de São Paulo mudou completamente. Isso abriu portas para eu conhecer outras salas de exibição, como o Reserva Cultural e o Cine Marquise, que fugiam do circuito convencional de shoppings aos quais estava acostumado desde a infância. Aos poucos, comecei a frequentar mais o Belas Artes e ele foi galgando espaço no meu coração a ponto de me fazer amar (e preferir) cinemas de rua e também de transformá-lo em meu objeto de estudo como jornalista. Foi lá que, ano após ano, comecei a realizar maratonas do Oscar — minha época favorita da temporada de premiações. Pude assistir em uma sala lotada Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) quando o filme retornou à exibição, em 10 de fevereiro de 2023, ou mesmo Babilônia (2022), que já havia saído de circulação, mas estava firme e forte no Belas, em 15 de fevereiro do mesmo ano. Lá tive encontros, levei amigos e amigas para assistirem filmes comigo, ou mesmo aproveitei para ler um bom livro na janela do segundo andar com vista para a movimentada rua da Consolação.

 

A cada vez que pisava no Belas Artes, entendia mais o porquê do título de “o cinema mais querido de São Paulo”. Lá, vejo todos os tipos de pessoas, de jovens, a adultos e idosos, que assistem filmes, mas também aproveitam o ambiente para tomar um café e conversar. O interesse pelo espaço foi me fazendo enxergar que os filmes podem ir além das salas de exibição. Além dos diversos projetos oferecidos (que serão explorados ao longo deste site), como o famoso Noitão e o Belas Sonoriza, este ambiente é marcado por uma história de resistência desde sua fundação, em 1956. As ameaças de fechar as portas para sempre foram muitas e suas causas diversas, mas o Belas permanece de pé até os dias atuais.

Em Luz, Câmera e Resistência, você embarcará em uma viagem por um dos cinemas de rua mais tradicionais de São Paulo. O objetivo do projeto é recontar a história de força e importância do Cine Belas Artes, principalmente a partir da perspectiva de seus frequentadores e daqueles responsáveis por mantê-lo funcionando.

 

Para isso, o site conta com seis depoimentos divididos em três grandes blocos. O primeiro traz um panorama histórico do Belas e dos cinemas de rua de São Paulo através da vida do casal Ideli e Wagner, frequentadores há décadas, e de Leo Mendes, um dos funcionários mais antigos do espaço. O segundo foca em partes da pandemia e especialmente como o apoio do público foi importante para manter o cinema vivo, com os depoimentos de Paula Ferraz, assessora de imprensa, e o casal Kelly e Douglas, frequentadores recentes. O terceiro bloco mostra um recorte sobre as mudanças que o Belas trouxe à vida das pessoas e como ele pode abrir portas para se conhecer melhor a cidade de São Paulo, pelos olhos de Matheus Souza, jornalista, e Daniel Serafim, crítico.

 

Para melhor contextualização dos depoimentos, o projeto também conta com outras duas abas de navegação. A primeira delas é a descrição da história completa e detalhada do Cine Belas Artes. A segunda, um tópico especial para discutir como a pandemia afetou o setor e principalmente o cinema que é objeto de estudo. Ambas, embasadas por meio de notícias, estudos e entrevistas.

 

Agora que você conhece um pouco mais da minha história com a sétima arte e, especialmente, com o Cine Belas Artes, é hora de explorar o site. Tenha uma ótima leitura!

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