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  • Foto do escritorMarcelo Canquerino

Belas, meu amor: nunca vou te abandonar

Atualizado: 2 de jul. de 2023


Casal Noitão: Kelly e Douglas transformaram o evento em rotina no relacionamento. Imagem: cedida pelas fontes


Em 2019, eu mal saía para me divertir. A regra era clara: de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Meu nome é Kelly Costa, sou desenvolvedora de softwares e já faziam 5 anos que eu havia saído de Manaus, no Amazonas, para morar sozinha em São Paulo. Nessa época, quando não conhecia praticamente ninguém na nova cidade, decidi participar de um encontro com o grupo ‘Vamos ao Cinema Juntos?’ — e foi aí que minha história com o Belas Artes, e com o Douglas, começou.


O objetivo do grupo, carinhosamente chamado de VCJ, é justamente juntar várias pessoas com gostos em comum e levá-las ao cinema para ver filmes e depois debatê-los. Conheci o Douglas quando procurei a categoria de filmes de terror, organizada por ele na época. Sempre amei o gênero, principalmente histórias bem sanguinolentas. O primeiro encontro que participei, na verdade, foi no shopping Frei Caneca em uma sexta-feira. Depois da sessão, fui com o grupo para um restaurante conversar sobre o filme — mas o Douglas mal ficou, disse que precisava se apressar para não perder um tal de “Noitão”.


Eu não fazia ideia do que era o Noitão, mas aí ele me explicou. “Você vira a noite assistindo a 3 filmes no Cine Belas Artes”. Ele foi para esse evento e eu continuei com o pessoal do VCJ. No dia seguinte, vejo uma mensagem do Douglas no meu celular. Um convite. Mesmo depois de ter passado madrugada à dentro no cinema, ele me chamou para ir ao Belas assistir mais 3 filmes de Oscar. Mesmo achando filmes de Oscar um saco, eu fui. Passamos o sábado, o domingo e a segunda lá. Conheci o cinema e assim começava meu namoro com o Douglas — que 6 meses depois se tornou casamento.


Kelly e Douglas durante um Noitão no Belas Artes. Imagens: cedidas pelas fontes


Foi com o Douglas (e o Belas) que eu abri meus horizontes para todo tipo de filme. Nesse primeiro encontro, assisti Green Book - O Guia (2018), que estava concorrendo na categoria de Melhor Filme em 2019, e achei sensacional. A partir de então, passei a ver filmes internacionais. Quando morava em Manaus, não tinha nenhum cinema de rua. Eu basicamente via filmes de Hollywood da moda que passavam nos shoppings. Nunca pensei que veria filmaços como O Poderoso Chefão (1972) e Edward Mãos de Tesoura (1990) na telona — o que só foi possível graças ao Belas.


Hoje em dia, participar dos Noitões se tornou quase uma rotina para nós. Temos um carinho muito grande por esse evento porque tudo acontece quase que perfeitamente. Nos programamos para dormir um pouco mais (o que nunca acontece). Mas mesmo passando o dia com sono, tomamos um energético, saímos para jantar e depois vamos direto para o Belas virar a noite. Antes de me conhecer, o Douglas já conhecia o cinema. Ele é advogado e em 2018 trabalhava na região da Avenida Paulista. Uma vez, ele precisou pegar o metrô Paulista, passou na esquina da Consolação, e deu de cara com o cinema, que achou lindo. “Um dia eu vou entrar aí”. Pesquisando na internet ele descobriu o Noitão, e desde o Halloween de 2018 é um frequentador assíduo — agora, comigo, claro. Dia de Noitão, para nós, é dia de namoro.


Os Noitões tornaram-se grandes eventos com o passar do tempo. Vídeo: cedido pelas fontes


Quando os cinemas fecharam durante a pandemia, em 2020, foi um período bem preocupante e triste, principalmente para o Belas. Tudo o que estava ao nosso alcance para ajudar, nós fizemos. Compartilhamos as campanhas no Instagram, mandamos para pessoas próximas, e também contribuímos financeiramente. O Belas fez de tudo para se manter vivo. É um verdadeiro sobrevivente. Houve vaquinhas, artistas famosos que leiloaram objetos e reverteram o dinheiro para o cinema, ingressos para a reabertura.


Foram maus bocados, mas quando o cinema reabriu definitivamente, em junho de 2021, nós estávamos lá. O Douglas quase chorou. Os eventos, como o Noitão, foram voltando aos poucos. No primeiro, nós vimos mais ou menos 16 pessoas. O pessoal ficou com muito medo de voltar. Não dá para julgar porque alguns são mais sensíveis, outros tiveram problemas devido à Covid-19. O Belas reabriu com metade da capacidade, restrição de lugares, com máscaras. Além de retornarmos, nós continuamos a ajudar. O medo do cinema fechar e ser a última vez que pisávamos lá falava alto. Independente de capacidade, o cinema, assim como qualquer outro local, tem gastos com água, energia elétrica, funcionários — e a gente pensava muito nisso na hora de dar suporte dentro do que estava ao nosso alcance. Então, acompanhamos aos poucos a volta ao normal.


O que sempre nos deixou encantados com esse cinema vai além dos filmes. O ambiente é maravilhoso, assim como as pessoas. Se você for até o Belas agora e perguntar para qualquer segurança: “Não tem um casal que tá sempre por aqui, principalmente nos Noitões?” Eles vão falar nossos nomes. De tanto frequentar, fizemos amizade com a Nathalia, que é gerente, e o Leo, o nosso MC Noitão, responsável por apresentar o evento. Amamos tanto que, durante uma época quando era possível, alugamos uma sala toda para nós e mais 10 convidados e assistimos Demons - Filhos das Trevas (1985) e Demons 2 - Eles Voltaram (1986). É impossível pensar no nosso relacionamento e não lembrar desse cinema de rua. A história com o Belas começou no nosso namoro e está aí até hoje — firme e forte no nosso casamento.



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